sábado, 23 de junho de 2012

Como será o amanhã?

Se você começar a encher uma jarra com gotas de água, de que a jarra estará cheia no final?? Há alguma possibilidade de, quando a jarra encher, haver leite ou vinho lá dentro??

Se você está se enchendo, neste momento, com stress, ansiedade, ilusão, medo, angústia, insegurança, inconformidade, raiva ou aflição, há alguma possibilidade de no futuro (seja esse futuro daqui a uma semana, um mês, um ano ou uma década!)... há alguma possibilidade de no futuro você estar cheio de alguma outra coisa que não stress, ansiedade, ilusão, medo, angústia, insegurança, inconformidade, raiva ou aflição??

Você pode mudar a água de uma jarra de plástico para uma de barro, de vidro, de cristal ou de ouro, mas o conteúdo futuro será água, pois foi isso que você pôs lá dentro... Assim como você pode mudar de casa, de emprego, de relacionamento, de carro ou de saldo bancário, mas seu conteúdo interno amanhã e depois de depois de depois de amanhã será exatamente aquilo de que você está se enchendo neste exato momento!

O futuro é só o eterno presente; uma expansão, um contínuo agora... Observe de que você está se enchendo agora...



segunda-feira, 18 de junho de 2012

Sobre Passado, Futuro, Medo e a Mente...

O software da mente

Nossa mente foi selecionada por milhões de anos de evolução pra sempre pensar o pior... Imagine dois homens das cavernas, um cuja mente não pensava sempre o pior e outro cuja mente sempre acreditava na pior hipótese... Os dois ouviam um barulho no mato... O primeiro ficava esperando pra ver o que era, enquanto o outro pensava "é um tigre", e subia correndo numa árvore... Qual dos dois deixou descendentes?

A mente é um software projetado para nos livrar de catástrofes e de perigos e para nos ajudar a sobreviver... Portanto não importa quanto ou o quê pensemos, sempre vamos acabar acreditando nas piores hipóteses, pois essa é a função da nossa mente perturbada: pensar o pior e ficar procurando compulsivamente uma saída. Todos nós somos descendentes do carinha que subiu na árvore, portanto todos temos o mesmo software rodando na cabeça...

A mente, como qualquer software, tem função definida e ação limitada... Funciona mais ou menos assim: Há um imenso banco de dados, a que damos o nome de PASSADO, onde estão arquivadas todas as informações, falas, conceitos, leituras, vozes de parentes e amigos, enfim, tudo que fomos capazes de filtrar do mundo durante a vida... Com base nesse banco de dados, vasto, mas obviamente limitado, o software faz suas projeções, pois essa é a função dele, prospectar... A essas projeções nós damos o nome de FUTURO... Nenhuma das duas coisas existe, nem passado, nem futuro; uma é o banco de dados, a outra é a simulação realizada pelo software, que é a mente, para aumentar nossas possibilidades de sobrevivência...

Feitas as projeções, a mente encontra os potenciais perigos, pois, como já dissemos, essa é a função desse software: fazer simulações e encontrar perigos, para nos manter a salvo deles... Não importa qual o banco de dados, nem qual é a simulação que o software de cada ser humano fez ou faz ou sobre que assunto seja, sempre um perigo vai ser encontrado, pois a mente só sabe fazer isso, só serve pra isso... Encontrado o perigo, o software dispara um alerta, a que chamamos de MEDO... E, por medo, entenda aquele alerta interno, com reações emocionais e/ou físicas, disparado diante de qualquer passagem de uma situação conhecida para uma situação desconhecida...

Disparado o alerta do medo, a mente tem 3 possíveis soluções para nos retirar do perigo localizado na simulação: ataque, fuga ou paralisação; que é o que acontece com os animais diante dos perigos da selva... Atacam, se estão encurralados; fogem, se for possível; ou se fingem de mortos, para ver se o predador vai embora...

Isso é bem útil diante de perigos reais e imediatos que coloquem em risco nossa integridade física... Mas é uma imensa bobagem, uma total perda de energia e uma fonte constante de aflição, ansiedade e sofrimento diante de todas as outras situações do nosso dia-a-dia...

Resumindo, enquanto nos identificamos com o software e acreditamos que passado e futuro são realidade, enquanto acreditamos que, se pensarmos muito sobre as coisas encontraremos uma solução adequada, estamos presos em Maya, na ilusão... Só há saída quando, como dizem os iluminados, “silenciamos a mente” e paramos de rodar o software quando ele não é necessário... É sobre isso a famosa frase de Einstein: “Penso 99 vezes e nada descubro. Deixo de pensar, mergulho no silêncio, e a verdade me é revelada.”

A mente quieta permite que escutemos a voz da nossa consciência... Permite que nos conectemos com a essência divina que realmente somos, permitindo que possamos agir baseados na nossa sabedoria interna... Essa sabedoria é a própria divindade, é amor, é consciência pura... A voz dessa consciência divina se expressa através de nossas consciências individuais, e é só através dela que podemos encontrar o caminho para nos livrarmos do looping insano em que nossa mente nos prende... Só através do contato com essa voz interior, com esse observador, é que podemos estar verdadeiramente conscientes e presentes, aqui e agora... e não mais escravos do software, da ilusão do passado, do futuro e do medo...

"A mente funciona como um inimigo para aqueles que não a controlam." Bhagavad Gita


sexta-feira, 15 de junho de 2012

Problemas


Se você acha que tem um problema, primeiro observe 3 coisas:
1. Se na verdade você não tem apenas memórias do passado que não quer largar...
2. Se não for isso, veja se não é apenas uma tentativa de adivinhar ou controlar o futuro...
3. Se também não for isso, certifique-se de que não é apenas uma situação presente e inevitável que você se recusa a aceitar...
Se não for nenhuma dessas três coisas, ainda existe a possibilidade de o problema em questão ser pertinente à vida de outras pessoas, e não à sua...
Excluindo todas essas possibilidades, veja se lhe resta de fato algum problema...


sábado, 9 de junho de 2012

Em Estado de Meditação

Seja o Observador


Encontre um assento estável e confortável dentro de você mesmo... Sente-se e observe, como se, de dentro de você, olhasse pela lente de uma câmera. 
Observe as coisas, as paisagens, as pessoas... Apenas observe, não pense a respeito, não julgue, não comente, não classifique, apenas assista!
Observe também, a partir da lente da câmera, você mesmo... seu corpo, por fora e por dentro, sua mente, seus pensamentos, suas emoções... Observe-se como se estive se filmando de dentro pra fora... Filme e assista apenas, não faça nada, não pense a respeito, não tente entender... Assista a todos os seus pensamentos e a todas as suas emoções...
Continue observando de dentro pra fora e observe agora quem é que observa... quem está por trás da lente... quem assiste a tudo, inclusive seus pensamentos e suas emoções...
Esse observador é você, consciência pura, consciência individual, parte da consciência divina, do observador universal... Tudo o mais, tudo o que é observado através da lente, é manifestação... É o manifesto que emana do Não-manifesto... É a matéria que emana da consciência imaterial.
Toda vez que se perder em pensamentos e emoções turbulentas, sente-se dentro de você e ocupe o lugar do observador, afaste-se daquilo que é manifestação e retorne à sua condição verdadeira de consciência... 



quarta-feira, 6 de junho de 2012

Você tem medo de quê?

O MEDO – Krishnamurti


“O medo é um dos mais formidáveis problemas da vida. A mente que está nas garras do medo vive na confusão, no conflito, e, portanto, tem de ser violenta,tortuosa e agressiva. Não ousa afastar-se de seus próprios padrões de pensamento,e isso gera a hipocrisia.


Enquanto não nos livrarmos do medo, ainda que galguemos o mais alto cume, ainda que inventemos toda espécie de deuses, ficaremos sempre na escuridão.


Vivendo numa sociedade tão corrupta e estúpida, em que a educação nos ensina a competir — o que gera medo — vemo-nos oprimidos por temores de toda espécie; e o medo é uma coisa terrível, que torce e deforma, que ensombra os nossos dias.


Existe o medo físico, mas esse é uma reação herdada do animal. É o medo psicológico que nos interessa aqui, porque, compreendendo os temores psicológicos em nós profundamente enraizados, estaremos aptos a enfrentar o medo animal, ao passo que, se primeiramente nos interessamos no medo animal, jamais compreenderemos os temores psicológicos.


Todos nós temos medo de alguma coisa; não existe o medo como abstração, porém o medo só existe em relação com alguma coisa. Sabeis quais são os vossos temores — o medo de perder vosso emprego, de não ter comida ou dinheiro suficiente; medo do que pensam de vós os vizinhos ou o público, de não serdes um “sucesso”, de perderdes vossa posição na sociedade, de serdes desprezado ou ridicularizado; medo da dor e da doença, de serdes dominado por outrem, de não chegardes a conhecer o amor, ou de não serdes amado, de perderdes vossa esposa ou vossos filhos; medo da morte ou de viver num mundo que é igual à morte, um mundo de tédio infinito; medo de vossa vida não corresponder à imagem que os outros fazem de vós; medo de perderdes a vossa fé — esses e muitos outros e incontáveis temores; conheceis vossos temores pessoais? E que costumais fazer em relação a eles? Não é verdade que fugis dele ou que inventais idéias e imagens para encobri-los? Mas, fugir do medo é torná-lo maior.


Uma das causas principais do medo é que não desejamos encarar-nos tais como somos. Assim, temos de examinar tanto os nossos temores como essa rede de vias da fuga que criamos para nos libertarmos deles. Se a mente, que inclui o cérebro, procura dominar o medo, se procura reprimi-lo, discipliná-lo, controlá-lo,traduzi-lo em coisa diferente, daí resulta atrito e conflito, e esse conflito é um desperdício de energia.


A primeira coisa, portanto, que devemos perguntar a nós mesmos é: “Que é o medo, e como nasce?” Que entendemos pela palavra medo, em si? Estou perguntando a mim mesmo o que é o medo e não de que é que tenho medo.


Vivo de uma certa maneira; penso conforme um determinado padrão; tenho algumas crenças e dogmas, e não quero que esses padrões de existência sejam perturbados, porque neles tenho as minhas raízes. Não quero que sejam perturbados porque a perturbação produz um estado de desconhecimento de que não gosto. Se sou separado violentamente das coisas que conheço e em que creio,quero estar razoavelmente seguro do estado das coisas que irei encontrar. As células nervosas criaram, pois, um padrão, e essas mesmas células nervosas recusam-se a criar outro padrão, que pode ser incerto. O movimento do certo parao incerto é o que chamo medo.


Neste momento em que estou aqui sentado, não estou com medo; não tenho medo do presente, nada me está acontecendo, ninguém me está fazendo ameaças nem me tomando nada. Mas, além deste momento presente, uma camada mais profunda da mente está, consciente ou inconscientemente, a pensar no que poderá acontecer no futuro, ou a preocupar-se com algum fato passado que me possa prejudicar. Portanto, tenho medo do passado e do futuro. Dividi o tempo em passado e futuro. O pensamento interfere, dizendo “Tem cuidado, para que isso não torne a acontecer”, ou “Prepara-te para o futuro! O futuro pode ser perigoso. Agora tens alguma coisa, mas podes perdê-la. Podes morrer amanhã. Tua esposa pode abandonar-te. Podes perder teu emprego. Talvez nunca te tornes famoso. Podes ver-te na solidão. Precisas estar perfeitamente seguro do amanhã”.


Considerai agora vosso temor particular. Olhai-o. Observai vossas reações a ele. Podeis olhá-lo sem nenhum movimento de fuga, de justificação, condenação ou repressão? Podeis olhar aquele medo, sem a palavra que causa medo? Podeis olhar a morte, por exemplo, sem a palavra que suscita o medo da morte? A própriapalavra produz um estremecimento, não é exato? — assim como a palavra amor produz seu estremecimento, sua imagem peculiar. Pois bem; a imagem que tendes na mente a respeito da morte, a lembrança de tantas mortes a que assististes, e o relacionar a vossa pessoa com tais incidentes — é essa a imagem que está criando o medo? Ou, com efeito, tendes medo do findar e não da imagem que cria o fim? É a palavra morte que vos causa medo ou é o próprio findar? Se é a palavra ou a memória que vos está causando medo, então não se trata realmente do medo.


Estivestes doente há dois anos, digamos, e a lembrança daquela dor, daquela doença, persiste, e a memória, agora em funcionamento, diz: “Tem cuidado, para não adoeceres de novo!” Por conseguinte, a memória, com suas associações, está criando o medo, e isso não é realmente medo, porque, com efeito, neste momento estais gozando perfeita saúde. O pensamento, que é sempre velho — pois o pensamento é reação da memória, e as lembranças são sempre velhas — o pensamento cria, no tempo, a idéia que vos faz medo, a qual não é um fato real. O fato real é que estais bem de saúde. Mas, a experiência, que permaneceu na mente como memória, faz surgir o pensamento “Tem cuidado para não adoeceres novamente”.


Estamos vendo, pois, que o pensamento engendra uma espécie de medo. Mas, separado desse, existe realmente medo? É o medo sempre resultado do pensamento? Se é, existe alguma outra forma de medo? Tememos a morte — uma coisa que acontecerá amanhã ou depois de amanhã, no tempo. Há uma distância entre a realidade e o que será. Ora, o pensamento experimentou esse estado; observando” a morte, ele diz: “Eu vou morrer”. O pensamento cria o medo da morte; e, se não o cria, existe então realmente o medo?


É o medo resultado do pensamento? Se é, uma vez que o pensamento é sempre velho, o medo é sempre velho. Como dissemos, não há pensamento novo. Se o reconhecemos, ele já é velho. Portanto, o que tememos é a repetição do velho— o pensamento sobre o que foi, projetando-se no futuro. Por conseguinte, o pensamento é o responsável pelo medo. Isso é um fato que podeis observar por vós mesmo. Quando vos vedes diretamente em presença de alguma coisa, não há medo. Só quando surge o pensamento é que há medo.


Por conseguinte, perguntamos agora: É possível à mente viver de maneira completa, total, no presente? Só assim a mente não tem medo. Mas, para compreender isso, tendes de compreender a estrutura do pensamento,da memória e do tempo. E, compreendendo-a, não intelectual nem verbalmente, porém de maneira real, com vosso coração, vossa mente, vossas entranhas, ficareis livre do medo; a mente pode então servir-se do pensamento, sem criar medo.


O pensamento, como a memória, é naturalmente necessário ao viver. É oúnico instrumento de que dispomos para nos comunicarmos, para trabalharmos em nossos empregos etc. O pensamento é a reação da memória, memória acumulada por meio de experiência, do conhecimento, da tradição, do tempo. Desse acúmulo de memória é que provêm as nossas reações, e essas reações constituem o pensar.


O pensamento, portanto, é essencial em certos níveis, porém, quando o pensamento se projeta, psicologicamente, como futuro e como passado, criando o medo bem como o prazer, a mente se embota e, por conseguinte, torna-se inevitável a inércia.


Assim, pergunto a mim mesmo: “Mas por que penso no futuro e no passado em termos de prazer e de dor, quando sei que esse pensamento gera medo? Não é possível o pensamento deter-se, psicologicamente, pois de outro modo o medo nunca terá fim?”


Uma das funções do pensamento é estar continuamente ocupado com alguma coisa. Em geral, desejamos ter a mente continuamente ocupada, para nos impedir de ver-nos como realmente somos. Temos medo de sentir-nos vazios. Temos medo de encarar os nossos temores.


Conscientemente, podeis perceber os vossos temores, mas estais cônscio deles nos níveis mais profundos? E como ireis descobrir os temores ocultos,secretos? Pode o medo dividir-se em consciente e inconsciente? Esta é uma pergunta muito importante. O especialista, o psicólogo, o analista, dividiram o medo em camadas profundas e camadas superficiais, mas, se fordes seguir o que diz o psicólogo ou o que eu digo, tereis a compreensão de nossas teorias, de nossos dogmas, de nossos conhecimentos, mas não tereis a compreensão de vós mesmos. Não podeis compreender-vos de acordo com Freud, Jung, ou de acordo comigo. As teorias de outras pessoas não têm importância alguma. É a vós mesmo que deveis perguntar se o medo pode ser dividido em consciente e subconsciente. Ou só existe medo, que traduzis de diferentes maneiras? Só existe um desejo; só há desejo. Vós desejais. Os objetivos do desejo variam, mas o desejo é sempre o mesmo. Assim, talvez, da mesma maneira, só existe o medo. Tendes medo de uma porção de coisas, mas só existe um medo.


Ao perceberdes que o medo não pode ser dividido, vereis que acabastes com o problema do subconsciente, pregando um logro aos psicólogos e aos analistas. Ao compreenderdes que o medo é um movimento único que se expressa de diferentes maneiras, e ao verdes o movimento e não o objetivo a que se dirige, estareis então em presença de uma questão imensa: Como olhar o medo sem a fragmentação que a mente cultivou?


5o há o medo total, mas como pode a mente que pensa fragmentariamente observar esse quadro total? Pode observá-lo? Temos levado uma vida de fragmentação e só somos capazes de olhar o medo através do processo fragmentário do pensamento. Todo o processo do mecanismo do pensamento é dividir tudo em fragmentos: Eu te amo e eu te odeio; tu és meu amigo, tu és meu inimigo; minhas idiossincrasias e inclinações, meu emprego, minha posição, meu prestígio, minha mulher, meu filho, minha pátria e tua pátria, meu Deus e teu Deus— tudo isso é fragmentação do pensamento. E o pensamento olha o estado atual de medo, ou tenta olhá-lo, e o reduz a fragmentos. Vemos, por conseguinte, que a mente só pode olhar esse medo total quando não há movimentação do pensamento.


Podeis observar o medo sem nenhuma conclusão, sem nenhuma interferência do conhecimento que a seu respeito acumulastes? Se não podeis,então o que estais observando é o passado e não o medo; se podeis, nesse caso estais, pela primeira vez, observando o medo sem a interferência do passado.


Só se pode olhar com a mente muito quieta, assim como só se pode ouvir oque alguém está dizendo, quando a mente não está a tagarelar, a travar consigo um diálogo a respeito de seus problemas e ansiedades. Podeis, da mesma maneira,olhar o vosso medo, sem procurardes dissolvê-lo, sem trazerdes à cena o seu oposto, a coragem; olhá-lo de fato, e não tentar fugir dele?
Quando dizeis: ”Eu tenho de controlá-lo, tenho de livrar-me dele, tenho de compreendê-lo” — estais tentando fugir dele.


Podeis observar uma nuvem, uma árvore ou o movimento de um rio, com a mente relativamente quieta porque essas coisas não são sumamente importantes para vós; mas o observar a vós mesmo é muito mais difícil, porque então as exigências são muito práticas, as reações muito rápidas. Assim, quando estais diretamente em contato com o medo ou o desespero, com a solidão e o ciúme, ou qualquer outro estado repulsivo da mente, podeis olhar de maneira tão completa que vossa mente fique suficientemente quieta para vê-lo?


Pode a mente perceber o medo, e não as diferentes formas de medo; perceber o medo total, e não aquilo de que tendes medo? Se olhais meramente para os detalhes do medo ou procurais acabar com os vossos temores um a um, nunca alcançareis o ponto central, que é aprender a viver com o medo.
O viver com uma coisa viva, tal o medo, requer uma mente e um coração altamente sutis, que não chegaram a qualquer conclusão, podendo, portanto, seguir cada movimento do medo. Então, se observardes o medo, e com ele viverdes — e isso não leva um dia inteiro, porque um minuto ou um segundo pode bastar, para se conhecer a inteira natureza do medo — se viverdes com ele completamente, perguntareis, inevitavelmente: ”Qual a entidade que está vivendo com o medo? Qual a entidade que está observando o medo, observando cada movimento de todas as formas do medo, e ao mesmo tempo consciente do fato central do medo? Será o observador uma- entidade morta, um ente estático, que acumula uma grande quantidade de conhecimentos e informações a respeito de si próprio, e essa coisa morta é que está observando e vivendo com o movimento do medo?” — Qual é a vossa resposta? Não respondais a mim, porém a vós mesmo. Sois vós — o observador — uma entidade morta a observar uma coisa viva, ou sois uma coisa viva a observar outra coisa viva? Porque, no observador existem os dois estados.


O observador é o censor que não deseja o medo; o observador é o conjunto de todas as suas experiências relativas ao medo.


E, assim, o observador está separado da coisa a que chama medo; há espaço entre ambos; está perpetuamente tentando dominá-lo ou dele fugir, e daí provém essa batalha entre ele próprio e o medo — essa batalha que é uma enorme perda de energia.


Observando-o, aprendereis que o observador é meramente um feixe de idéias e lembranças sem validade, sem substância nenhuma, ao passo que aquele medo é uma realidade; assim, estais tentando compreender um fato com uma abstração, e isso, naturalmente, não podeis fazer. Mas, será o observador, que diz “Tenho medo”, diferente da coisa observada, o medo? O observador é o medo e, uma vez percebido isso, não há mais dissipação de energia no esforço para livrar-sedo medo, e o intervalo de tempo-espaço, entre o observador e a coisa observada,desaparece. Quando percebeis que sois uma parte do medo, que não estais separado dele, que vós sois o medo, então nada podeis fazer a seu respeito: o medo terminou totalmente.”