A palavra cura já existia em latim com o sentido primitivo de “cuidado”, “atenção”, “diligência”, “zelo”. São justamente esses os significados de cura neste espaço. A idéia é trocarmos palavras, idéias, sentimentos, atenção e cuidado.
Sou professora de yoga e terapeuta e tenho me dedicado a meu auto-conhecimento através de um intenso e delicioso caminho de explorações e descobertas. Este é um espaço para que possamos compartilhar as diversas possibilidades de busca da integridade da alma.
Que nossos anseios tenham o mesmo tamanho de nossa responsabilidade...
Aquele que deseja grande e não planta seus pés na terra, para construir passo a passo, pouco a pouco, seu sonhos, ponderando as consequências de cada ação diária, confina-se em devaneios ilusórios e a uma sensação de insatisfação eterna... Aquele que mantem pés enterrados fundo no chão, calculando meticulosa e medrosamente cada mínimo passo, sem tirar os olhos da terra vez por outra e lançá-los à infinita grandeza dos céus, se aprisiona em uma realidade limitante e desumana, tornando-se máquina incapaz de expressar e experimentar a pulsão criativa que nos move... Portanto, assim como árvores, que nossas raízes sejam tão grandes quanto nossa copa... Que tudo aquilo que sonhamos alcançar encontre na terra uma base firme sobre a qual se erguer... Pois as divisões entres céus e terra, divino e profano, passado e futuro, são apenas criações de nossas mentes condicionadas... Ou buscamos consciência para enxergar o todo, ou continuaremos limitados a crescer apenas o quanto nossos pequenos vasos de crenças nos permitam...
Penso que o maior prejuízo das neuroses seja eliminar a criatividade da vida... É possível inventar e reinventar nosso enredo pessoal da existência das formas mais inusitadas e criativas... Mas, ao entrarmos num padrão neurótico, mesmo que mudem o cenário ou os coadjuvantes, só conseguimos repetir uma única história, que, por mais interessante que tenha sido em algum momento, acaba se tornando uma patética ópera bufa, pelo enfado da repetição...
Enredados em nossas próprias construções mentais a que chamamos de realidade (mas não são!!!), perdemos a conexão com o que existe de divino e real em todas as coisas... Somente a atenção plena, a mente quieta e a observação atenta do agora podem nos libertar desses padrões neuróticos, da roda de samsara. Enquanto me ocupo pensando no que foi, no que será ou no que são os outros, continuo irremediavelmente aprisionado em minhas próprias neuroses... Somente quando permaneço atento e sou capaz de observar o que sou, o que sinto e o que penso nesse exato momento, diante de tudo que se manifesta ao meu redor, somente assim posso estabelecer contato com o que de fato é real e me deslumbrar diante da maravilha que é a existência...
Só nos tornamos de fato adultos quando temos coragem de jogar fora todas as estratégias infantis que usamos a vida toda para atrair o olhar dos outros... Quando deixamos de ser perfeitinhos, bonitinhos, coitadinhos, educadinhos, revoltadinhos, feiinhos, gordinhos, magrinhos, quietinhos, doentinhos... E quaisquer outros "inhos" que nos tenham rendido atenção na infância...
Para alcançarmos uma existência plena, é preciso desidentificar-se desses papéis e assumir a responsabilidade pela própria vida, sabendo que aqueles que convivem conosco respondem positiva ou negativamente a essas nossas performances, mas que somos nós os responsáveis por escolhermos os rótulos e por nos mantermos dependentes das respostas alheias a eles...
O Ser, ou Deus, ou a divindade, ou o princípio divino que existe em cada um de nós (como se prefira chamar!!) é composto de 3 fundamentos básicos, designados em sânscrito como SAT - CHIT - ANANDA.
SAT é o sentido de Existência, de Realidade Suprema, inquebrantável, sem segundo, não dual e sempre a mesma.
CHIT é o sentido de Consciência, de lucidez plena, onisciência e sabedoria.
ANANDA é o princípio que é ao mesmo tempo o Amor, a felicidade e o contentamento, vivenciados ao mesmo tempo.
Ou seja, O Ser É (Sat), Sabe que é (Chit) e Ama ser (Ananda)... Essa é a conexão com o divino dentro de nós: ser, ter consciência de ser e ter prazer em ser...
Amor não é aplicação financeira, não é um patrimônio sobre o qual podemos decidir dispender ou economizar... Amor é água corrente de fluxo intenso e incessante... Pode-se tentar represar o afeto, trancando o coração por medo, precaução ou qualquer justificativa que se queira dar para o represamento afetivo... Mas o fato é que água represada é energia potencial se acumulando e, mais cedo ou mais tarde, comportas se rompem e é só catástrofe e sofrimento pra todo lado... O sofrimento não acontece por causa do amor, mas pela sovinice afetiva de tentar economizá-lo... Amor á água corrente, é fluxo incessante, portanto tem que fluir... E, quanto mais flui, mais dele existe, pois a fonte é inesgotável!! Um rio com espaço pra correr irriga a terra, mata a sede, gera vida... Rio canalizado, debaixo de concreto, alaga tudo na primeira chuva mais intensa... Normalmente esperamos uma paixão avassaladora transbordar o rio de amor que somos, trazendo dor e sofrimento depois... Melhor deixar fluir, abrir o peito e simplesmente amar, sem precisar nos afogarmos na ilusão do arrebatamento pra descobrirmos que já somos água...