
Texto de João Gonçalves
em O Som e a Escritura
O Shivaísmo da Caxemira é uma tradição que surgiu a partir do século oitavo da Era Cristã. Tem-se como grande marco a obtenção inspirada dos Shiva-sūtras por Vasugupta (ler o relato tradicional). Shivaísmo porque tem Shiva como fonte e objetivo principais, da Caxemira, porque se desenvolveu na região geográfica assim chamada.
Ainda que exista grande reverência a Shiva enquanto deus (aquele do tridente, dançante ou em postura de meditação), não é esse o principal sentido do termo shiva no Shivaísmo da Caxemira. Shiva é a consciência universal, consciência divina, a luz alimenta cada forma de consciência.
O objetivo da tradição não é entender o que é Shiva, mas vivenciar sua presença. Mas para vivenciar, entender é um dos mecanismos essenciais que ajudam o aspirante.
Trata-se de um progresso em que a prática e o conhecimento vão se ajudando passo a passo. Não há prática sem conhecimento, nem conhecimento sem prática. Os conceitos só valem quando são praticáveis e as práticas se potencializam quando amparadas pelo conceito.
No Shivaísmo, entende-se que todas as consciências individuais são manifestações limitadas de uma única consciência. Somos, portanto, Shiva. Essa forma de compreender amplia enormemente a dimensão humana. O ser humano está envolvido em meio a uma série de véus que o impedem de perceber o quanto ele é grandioso, o quanto sua presença é ampla e universal.
Para compreender essa idéia precisamos ter em mente o fato de que o mundo existe em níveis sutis e densos. No nível sutil, está a unidade, e no nível denso, a multiplicidade. Somos indivíduos limitados no nível denso e somos também presença universal ilimitada no nível sutil. Somos as duas realidades ao mesmo tempo. A principal finalidade das práticas é levar o adepto à capacidade de vivenciar as duas realidades ao mesmo tempo. Não se nega o mundo para experimentar o divino. Pelo contrário, entende-se que o mundo é emanação divina.
Uma prática de meditação preparatória para introduzir o aspirante nessa realidade é a seguinte:
"Fechando os olhos, inspiramos e sentimos nosso corpo, seu peso, sua presença física e tudo o que diz respeito ao denso. Expiramos, suspendemos a percepção do corpo e simplesmente “ficamos em nós mesmos”, sentindo nossa presença sutil. Ficamos nessa alternância por um período de cinco a dez minutos e, a seguir, mantendo os olhos fechados, deixando a respiração fluir naturalmente, observamos a nós mesmos, sentindo a própria presença total, densa e sutil."
dica: veja o post A meditação natural e ininterrupta para conhecer dicas gerais sobre o preparo para a prática de meditação.
* a foto (tirada por mim) mostra um Yoni-liṅga (símbolo da conjunção essencial entre consciência e matéria) de um templo shivaíta em Khajuraho.
Saiba mais em: http://www.blog.om.pro.br
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