quarta-feira, 29 de junho de 2011

Sobre os rituais de sacrifício...

Acho interessante pensar que, quando julgamos a “perversidade” da ritualística dos sacrifícios humanos, estamos julgando pela ótica de nossa perspectiva individualista.
Nas comunidades gregárias onde esses sacrifícios aconteciam, acho difícil acreditar que estava realmente presente a idéia de sacrificar “o outro”... Creio que essa conduta ritualística seria mais próxima de algo como “matar uma parte de si mesmo”.
É bom lembrar que esses grupos eram bastante vulneráveis às vicissitudes externas (clima, inimigos, doenças, condições geográficas e ambientais) e viver em comunidade era fundamental para a sobrevivência, portanto, quanto mais gente para proteger o grupo, melhor...
Quando eles realizavam um sacrifício de membros desse mesmo grupo, estavam sacrificando indivíduos que fariam falta na defesa e preservação dos outros. Quando sacrificavam virgens, estavam diminuindo a possibilidade de perpetuação do grupo e de cuidados com as crianças. Quando sacrificavam inimigos capturados, estavam sacrificando mão-de-obra escrava extremamente útil. Quando sacrificavam animais, estavam abrindo mão de animais que poderiam fazer muita falta como alimento posteriormente.
Num exercício de desapego aos juízos de valor, realmente entendo que esses rituais foram extremamente necessários, para a internalização no inconsciente coletivo daquilo que entendemos hoje como fazer “sacrifícios” de alguns hábitos e confortos em função de atingir outros objetivos...


quinta-feira, 23 de junho de 2011

Luz e sombra... E o amor!

De minha parte, não gosto do que exclui ou condena, prefiro o que une e integra!

Grande revelação tem sido descobrir que meu corpo, meus desejos e meus sentimentos não são um caminho perigoso, uma estrada de tentações condenáveis a me encaminhar a algum presumível “inferno”... Descoberta maravilhosa tem sido, perceber que tudo o que vivo e experimento é a manifestação de uma mesma essência divina, pois nada há que exista fora de Deus, uma vez que Ele é tudo, continente e conteúdo, essência e manifestação... Divino mesmo tem sido descobrir que meu corpo, meus sentimentos, minhas emoções e todas as relações que se manifestam em minha vida, exatamente da forma como se manifestam, são, na verdade, um caminho rico e maravilhoso, que me conduz ao único lugar onde se pode chegar, ao centro, à verdade, a Deus! Isso é yoga, não? Integração, união...

Qualquer desenhista iniciante sabe que, sem as sombras, não há profundidade... Pois assim também é nossa jornada de auto-conhecimento, sem a integração daquilo que julgo ser "defeito", sou uma pessoa, rasa, plana, superficial... Se eu for capaz de amar aquilo que chamo de “sombras”, tanto quanto desejo amar aquilo que chamo de “luz”, certamente não haverá mais sombra ou luz, haverá apenas amor!





terça-feira, 21 de junho de 2011

À procura de gurus...

Quem é o mestre, quem é o guru? Por quem procuro quando busco palavras sábias, palavras de conforto e iluminação?
Não busco nada, não busco a verdade, não busco a essência, não busco o que realmente é... Busco apenas um breve consolo para o cansaço, que surge entre os momentos de satisfação de meus sentidos; busco uma breve pausa, para alimentar meu ego com a sensação de que as “coisas do céu” podem me ensinar a lidar com as “coisas da Terra”...
Pelo que busco quando digo querer a verdade? Busco pela verdade que satisfaça meus desejos infantis de auto-aceitação, busco a verdade que reforce todos os meus condicionamentos prévios...
Se não é essa a verdade que se manifesta, não posso aceitá-la como verdadeira... Se as palavras não encontram eco entre meus valores, entre minhas necessidades e minhas expectativas, ouço meus próprios pensamentos se desdobrando em críticas afiadas e lógicas contra tudo o que é dito...
Para serve o mestre? Para que serve o guru? Serve-me apenas se dizer aquilo que quero ouvir, serve-me apenas se me oferecer um consolo passageiro, para que eu possa migrar de uma sensação a outra, para que possa me mover do desagradável para o agradável...
Que mestre é esse então? Que guru é esse? Que verdade é essa que tem como função única satisfazer minha insatisfação momentânea, conduzindo-me da sensação de desorientação, para a sensação de sabedoria suprema, que me coloca acima de todos, entre eleitos à parte do mundo? Que verdade é essa que infla meu ego e me isola?
Essa definitivamente não é a verdade, isso tudo sou apenas eu, eu e meu imenso ego desdobrando-se em artifícios intelectuais, para que eu tenha certeza daquilo que sequer existe...
E o que existe?  O que existe é a inexistência de mestres ou gurus, a inexistência de qualquer verdade externa que possa ser inoculada nos discípulos... O que existe é aquilo que une, que iguala, não o que separa... O que ensina está separado do que aprende, portanto ambos não existem, pois estão separados... O que realmente existe é a essência que a tudo permeia e em tudo se manifesta, e reconhecer essa essência é aceitar a frustração suprema de não ser dono dessa essência, de não poder jamais possuí-la...
A verdade é que a essência é apesar de mim e que eu posso não estar realmente querendo aceitar isso, que eu posso não desejar enxergar a verdade de que, sendo tudo, nada sou, assim como todos...


sexta-feira, 17 de junho de 2011

Relação com a Divindade...

Não importa a forma como é manifestado, importa sempre o sentimento presente... Recebi por e-mail essa mensagem singela e gostei muito!... Ainda que estejamos personificando a Divindade, o que vale e sutileza da relação íntima que somos capazes de estabelecer com ela...

Quando eu era criança e pegava uma tangerina para descascar, corria para meu pai e pedia: - “pai, começa o começo!”. O que eu queria era que ele fizesse o primeiro rasgo na casca, o mais difícil e resistente para as minhas pequenas mãos. Depois, sorridente, ele sempre acabava descascando toda a fruta para mim. Mas, outras vezes, eu mesmo tirava o restante da casca a partir daquele primeiro rasgo providencial que ele havia feito.

Meu pai faleceu há muito tempo (e há anos, muitos, aliás) não sou mais criança. Mesmo assim, sinto grande desejo de tê-lo ainda ao meu lado para, pelo menos, “começar o começo” de tantas cascas duras que encontro pelo caminho. Hoje, minhas “tangerinas” são outras. Preciso “descascar” as dificuldades do trabalho, os obstáculos dos relacionamentos com amigos, os problemas no núcleo familiar, o esforço diário que é a construção do casamento, os retoques e pinceladas de sabedoria na imensa arte de viabilizar filhos realizados e felizes, ou então, o enfrentamento sempre tão difícil de doenças, perdas, traumas, separações, mortes, dificuldades financeiras e, até mesmo, as dúvidas e conflitos que nos afligem diante de decisões e desafios.

Em certas ocasiões, minhas tangerinas transformam-se em enormes abacaxis......

Lembro-me, então, que a segurança de ser atendido pelo papai quando lhe pedia para “começar o começo” era o que me dava a certeza que conseguiria chegar até ao último pedacinho da casca e saborear a fruta. O carinho e a atenção que eu recebia do meu pai me levaram a pedir ajuda a Deus, meu Pai do Céu, que nunca morre e sempre está ao meu lado. Meu pai terreno me ensinou que Deus, o Pai do Céu, é eterno e que Seu amor é a garantia das nossas vitórias.

Quando a vida parecer muito grossa e difícil, como a casca de uma tangerina para as mãos frágeis de uma criança, lembre-se de pedir a Deus:

“Pai, começa o começo!”. Ele não só “começará o começo”, mas resolverá toda a situação para você.

Não sei que tipo de dificuldade eu e você estamos enfrentando ou encontraremos pela frente neste ano. Sei apenas que vou me garantir no Amor Eterno de Deus para pedir, sempre que for preciso: “Pai, começa o começo!”.


quarta-feira, 15 de junho de 2011

Amor e Compaixão...

Agradeço a Deus, hoje, por conseguir penetrar, ainda que levemente, o sagrado espaço da compaixão... Nele, minha alma se amplia, regozija-se e se torna plena, plena de si e plena do Todo... Sinto-me, ainda que brevemente, ligada àqueles por quem meu coração vibra, sinto a sutiliza imutável da afeição que me une a tudo e a todos que sou capaz de amar...
E, por mim, que mais posso fazer, senão receber essa graça, deleitar-me com ela e rogar ao Pai que todos possamos um dia desfrutar incessantemente da plenitude do amor eterno...
Entrego-me plenamente, nesse momento eterno, à infinita plenitude de sentir aquilo que, ainda que tivesse todo o tempo, toda a habilidade e todas as palavras do mundo, não poderia nem mesmo chegar perto de conseguir descrever... Entrego-me à verdade absoluta que é o amor!


domingo, 12 de junho de 2011

Pouso sobre a cabeça e minha voz interna...

Um dia, em uma aula de yoga, estava eu lá, tentando construir meu pouso sobre a cabeça, completamente presente, atenta e sem expectativas... Realmente estava só observando o que acontecia com meu corpo e o que eu sentia... Nesse processo, fui tomada de grande contentamento, pois percebi quanto estava avançando em relação aos medos e dificuldades anteriores... Eu estava consciente de que um dia faria o pouso completo, mas estava totalmente satisfeita por investigar o que estava acontecendo naquele momento... Aí ouvi o professor de yoga dizer que era só eu levantar as pernas, que elas estavam pedindo pra subir...

Naquele momento, eu tentei, desequilibrei e desci... um tanto desconfortável, pois eu sabia que não estava pronta... Ou seja, não ouvi minha voz interior, ouvi a sua voz do outro...

Essa percepção foi muito rica e ampla pra mim, pois depois fiquei avaliando uma busca constante minha por sinais externos... Parece que sempre tive necessidade de que Deus me mostrasse, através de algum sinal que eu pudesse entender, se o que eu estava fazendo era o certo... Às vezes buscava esses sinais, essa “validação de Deus”, nos conselhos dos outros, em alguma leitura sagrada, em previsões astrológicas ou sabe lá mais o quê... Mas, naquele dia, senti o tanto de sabedoria interna que tenho (que todos temos!) e como tenho sido surda pra essa sabedoria...

Não importa que, aos olhos dos observadores externos, eu esteja aparentemente pronta ou no caminho certo; talvez eu realmente esteja e eles possam perceber isso antes de mim, mas, só quando a minha voz interna me der o sinal, eu serei capaz, eu estarei no caminho certo, no meu caminho... Pode ser que essa voz interna só não tenha falado ainda, por causa dos meus medos, mas, mesmo assim, tenho de respeitá-la, testando amorosamente meus limites, ganhando confiança, estando contente e avançando sempre com cada pequeno passo que eu for conseguindo dar... Ainda que sejam apenas medos tolos que não me permitam à entrega de uma postura, ou seja lá do que for, esses medos estão lá, ainda precisam de minha observação atenta e de meu amor compassivo, pra que venham à luz e se desfaçam pelo poder transformador do amor...

...e tenho certeza, como já experimentei em outras situações, que, quando esse amor tiver penetrado de tal forma que eu possa enxergar toda a minha potencialidade, aí chegará o momento em que a as vozes externas que chegam aos meus ouvidos serão o eco audível da minha voz interna e, aí sim, minhas pernas estarão prontas pra subir no pouso sobre a cabeça, como também minha alma estará pronta pra "subir" em direção à luz!


quinta-feira, 9 de junho de 2011

Outro e eu...

Se eu realmente pudesse enxergar o outro, o que eu veria?
Veria meus medos, minhas incertezas? Veria minhas realizações irrealizadas? Veria minhas virtudes não alcançadas? O que eu veria?
Se eu pudesse realmente sentir o outro, o que eu sentiria? Sentiria o amor que não sou capaz de expressar? Sentiria a dor da qual fujo incessantemente? Sentiria o medo aterrorizante de ser algo indesejado?
Se eu pudesse realmente estar com o outro, onde eu estaria? Estaria em castelos construídos sobre as nuvens da ilusão? Estaria nas profundezas do mar dos nossos medos inconscientes? Estaria deitado na relva suave dos sonhos impossíveis? Onde eu estaria?
Se eu pudesse realmente ver, sentir e estar com o outro, eu estaria exatamente onde estou, seria exatamente o que sou, sentiria exatamente o que estou sentindo... Se eu pudesse realmente estar plenamente consciente de mim mesmo, concederia ao outro a benção de poder também estar plenamente consciente de si mesmo... E, quando assim estivéssemos, ambos plenamente conscientes, então nós não mais nos veríamos, não mais nos sentiríamos, não mais estaríamos juntos, pois nós estaríamos unos, plenos e conscientes junto à mesma Consciência Suprema que habita em cada um de nós desde sempre...